GPL

Assim:

Pela constituição, do Brasil e de muitos e muitos países, basicamente tudo o que fazemos é “protegido” por “direitos” “autorais”.

Ou:

Pela constituição, do Brasil e de muitos e muitos países, basicamente tudo o que fazemos é “subjugado” por “desmandos” de “autores”.

(Todas, todas, as aspas são intencionais.)

Juridica, etica, economica e filosoficamente (e putaquepariumente e tudo mais) estou dizendo exatamente a mesma coisa. EXATAMENTE (acho que fui claro e enfático, né?).

*

Bem, curto e grosso, GPL é isso:

http://pt.wikipedia.org/wiki/GNU_General_Public_License

Sim, é a licença usada em linux.

Não sou adEvogado e nem beletrista (letrólogo? formado em Letras?) e nem dicionarista, então posso, a seguir, falar merda (embora, muito obviamente, mesmo se se eu fosse alguma dessas coisas, também poderia livre e lindamente falar merda…).

É uma licença de direito autoral, mas, pelo que eu entendi, só vale para programas de computador (softwares, como dizem os yankees, de lá e daqui). Mas eu quero usar pra texto/conteúdo.

Oka.., eu sei que tem isso também:

https://pt.wikipedia.org/wiki/GNU_Free_Documentation_License

É a licença pra documentação (logo, texto/conteúdo) sobre os programas de computador. Bem, é que eu não vou escrever documentos sobre programas, mas sim documentos sobre qualquer coisa que eu bem quiser.

Então, juridicamente, tá difícil, viu?

*

Mas, mesmo assim, indo em frente:

O motivo? Bem, curto e grosso: porque sim. Porque eu quero assim. (Motivo zero.)

Inclusive, este motivo zero é uma condição constitucional, do Brasil e de muitos países. Caso eu queria usar outra licença que não a ‘propriedade intelectual clássica’ eu preciso manifestar tal intenção. É o que estou fazendo aqui.

*

E porque tem outros porquês. E mais importantes que o primeiro (mas o primeiro é importante também, claro).

Pra começo de conversa, isso (motivo um):

( https://www.youtube.com/watch?v=zWTAm2EkeAM )

Tudo que eu queria fazer
Alguém fez antes de mim
Tudo que eu queria inventar
Foi criado por alguém

(E a poesia continua rolando solta: “Nada do que eu sei me diz quem eu sou/ Nada do que eu sou de fato sou eu” e “Nada do que eu sou me diz o que sei / Nada do que eu sei de fato é meu ”. * Lê/ôva tudo lá no final, é maior boa pacas essa música.)

Qualquer patente e direito autoral é uma forma (indevida, óbvio) de cerca, de propriedade (intelectual) privada.

E, sim, a humanidade sempre sobreviveu sem este tipo de balela, haja vista a quantidade de músicas (e quadros, pinturas e esculturas…) que são de autores “anônimos”.

E, sim, isso é plenamente economicamente viável. Tem um cara chamado Chang ( https://en.wikipedia.org/wiki/Ha-Joon_Chang ) que escreveu um livro chamado Chutando a escada (Kicking away the ladder) e diz que a Suíça era (e é) maior avançada em $ e tecnologia (mecânica de precisão, relógios e óptica e tal; química, queijos e chocolate e tal, só pra ficar nos exemplos mais conhecidos) já nos sécs. XVIII e XIX e não tinha lei alguma de patente ou direito autoral. Não respeitavam/reconheciam isso. E eles queriam ficar assim. Só tiveram de aderir a isso por causa de acordos internacionais (intereuropeus) de comércio.

E como você acha que Japão e Coreias (a do Norte também, viu? Eles têm bomba) avançaram tecnologicamente? E o que você acha que a China faz hoje, enquanto você lê este texto?

Afinal, basicamente toda propriedade privada é (ou ‘pode ser’) indevida. Exceto aquilo que está sob seu uso, claro. Exemplo simples: meus óculos são meus. Ponto. São úteis, bem úteis, a mim, e basicamente somente a mim. Assim como minhas roupas, meu carro (no caso, não tenho, mas se tivesse), meu teto (casa), livros, computador, escrivaninha etc. e tal. Na real, o problema não é a existência da propriedade privada, é o excesso de propriedade privada. E também o excesso de direitos (na acepção jurídica do termo) de uma pessoa sobre esses bens.

Portanto, e por isso, eu quero me liberar, e me libertar, dessas amarras.

*

Motivo dois:

Se eu conseguir fazer, fazer algo, fazer alguma coisa, qualquer coisa, se eu conseguir concretizar minhas ideias, ótimo; se eu não conseguir (99% das vezes), não tem pObRema.

E tomara que alguém se encante, encampe, e toque pra frente. E, claro, pode ganhar $ com isso também. Não quero saber de ‘cercear’ (etimologia: cerca) ninguém.

Se alguém puder me citar nos créditos (ou nos agradecimentos), legal, seria tipo um afago gostosinho no meu ego. Mas, se me roubarem descaradamente, bem, é a vida, isso acontece o tempo todo. E desejo o bem do projeto de qualquer forma.

E encantar/inspirar os outros, cara, isso é magnífico.

*

Finalmente, o mais importante de tudo (motivo três) é: ideias devem (ou deveriam) circular e pessoas devem (ou poderiam) fazer coisas.

De preferência, ideias diferentes, opostas, complementares, contraditórias, muitas ideias ou poucas ideias, tanto faz, que circulem e que circulem o mais longe possível, por mais tempo possível (ou perto e breve, também tá valendo).

E igualmente com coisas. Que as pessoas façam coisas. Belas ou burras, pertinentes ou etéreas e um negócio deveras, deveras, deveras basal: que pessoas façam coisas de muitos e muitos e muitos jeitos. Jeitos belos ou burros, pertinentes ou etéreos, com retorno ou sem retorno…

… inclusive, claro, sempre abrangendo a possibilidade de não ter ideia alguma e de não se fazer porra nenhuma. É tão válido, tem exatamente o mesmo valor/serventia do que se pensar/fazer algo.

Chega de fórmulas, né, genti, que a química já tá cheia (thci-dum!).

***

Em termos gerais, a GPL baseia-se em 4 liberdades:
1. A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0)
2. A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2).
4. A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie deles (liberdade nº 3). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.

(Tirado do verbete da Wikipedia.)

A real é que a GPL também cobra o seu preço. Pois “nada es gratis en la via”:

( https://www.youtube.com/watch?v=IKKdAHLmdII )

Seria a “liberdade nº 4” ou a “condição nº 0”. Tudo que usar algo liberado/libertado sob a licença GPL deve também se tornar GPL, tem de ser licenciado em GPL.

Se você quiser copiar este texto meu, meu amigo, tem de publicar o seu ‘novo’ texto (seu texto baseado em mim) em GPL, por exemplo.

Se você quiser usar GPL, meu amigo, tem de ser generoso.

Se você quiser usar GPL, para os padrões (mesquinhos) de hoje, tem de ser generoso, meu amigo.

E, sim, se você quiser ‘acusar’ liberdade (e GPL) de ser algo contagiante, como um vírus ou doença, algo cancerígeno (uma célula mutante que causa mutações nas células vizinhas), bem, é o seu ponto de vista, mas você não deixa de estar certo.

Como é igualmente correto você chamar este tipo de relação de uma sociedade em cooperação, como uma rêmora e um tubarão, uma colônia da biologia (só da biologia, viu?) ou quando você ajuda um amiguinho (ou filho, se você for pai/mãe) a fazer dever de casa ou quando você pagar a conta do jantar para uma moça (ou moço, por que não?) bacana.

***

A partir de agora, quero que todas minhas ideias, meus textos, aqui neste blogue, no meu outro blogue ( http://cercania.wordpress.com ), minhas postagens no Livro da Faces (Facebook) e tudo mais que eu puder tocar, pensar e liberar (pois, lembre-se, meus óculos NÃO são GPL), enfim quero que tudo que seja meu, que seja seu também, seja da sociedade, seja GPL.

Mas se você quiser me usar, meu amigo, se quiser abusar deste meu corpinho, desta minha cabecinha, tem de ser generoso.

*

Nos próximos dias aparecerão duas postagens/ideias importantes aqui (ou pelo menos importantes para mim, que eu tenho um grande carinho): “Motoboy fantasma” e “O jovem Gandalf – O maguinho de São José”. São ideias/enredos para curtas-metragens/vídil-series para a internet.

Aproveitem e façam bom uso.

***

Ps. O oposto de liberdade não é prisão, viu? É propriedade.

Pois “esta terra é a minha terra/ Esta terra é a sua terra/ Esta terra foi feita pra mim e pra você”:

( https://www.youtube.com/watch?v=LIKU8O58-Yk )

“Tudo que eu sou também será seu”

***

(Só pra constar, o meu texto acabou.)

Para manter ou mudar (a do piano)

Tudo que eu queria dizer
Alguém disse antes de mim
Tudo que eu queria enxergar
Já foi visto por alguém

Nada do que eu sei me diz quem eu sou
Nada do que eu sou de fato sou eu

Tudo que eu queria fazer
Alguém fez antes de mim
Tudo que eu queria inventar
Foi criado por alguém

Nada do que eu sou me diz o que sei
Nada do que eu sei de fato é meu

Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar

Sempre que eu tento acabar
Já desisto antes do fim
Sempre que eu tento entender
Nada explica muito bem

Sempre a explicação me diz o que sei:
“Sempre que eu sei, alguém me ensinou?”

Algo explodiu no infinito
Fez de migalhas
Um céu pontilhado em negrito
Um ponto meu mundo girou
Pra criar num minuto
Todas as coisas que são
Pra manter ou mudar

Agora reinvento
E refaço a roda, fogo, vento
E retomo o dia, sono, beijo
E repenso o que já li
Redescubro um livro, som, silêncio,
Foguete, beija-flor no céu,
Carrossel, da boca um dente
Estrela cadente

Tudo que irá existir
Tem uma porção de mim
Tudo que parece ser eu
É um bocado de alguém

Tudo que eu sei me diz do que sou
Tudo que eu sou também será seu